
Fight Club (1999)
No regresso à lista dos 30 antes dos 30, calhou, desta vez, Fight Club.
Para começo de conversa, é preciso dizer que o marketing deste filme anda errado desde o início. Portanto, desde 1999 que o Fight Club aparece com a carinha do Brad Pitt a fazer de porta de entrada. Até percebo o motivo, ou não fossem aqueles os anos áureos do rapaz. Mas este filme não é Brad Pitt (apesar de estar bem, sim). Este filme é Edward Norton.
Edward Norton tinha acabado de dar ao mundo American History X (1998). Aí, surge como um neonazi obstinado, que oscila entre a obrigação de cuidar da família e o vórtex que é o seu grupo de skinheads, até alcançar o arrependimento final. A suástica tatuada no peito é inesquecível, como também o é a cabeça rapada naquela personagem ajoelhada no chão, com um esgar estampado no rosto. Os braços estão musculados e o olhar é confiante.
Em Fight Club, Edward Norton aparece como um tipo emocionalmente desequilibrado. É franzino (perdeu cerca de 10 quilos para este papel) e não parece sequer conseguir enfrentar qualquer adversário com os seus braços magros, nos encontros do clube. Mas o que a personagem não tem de músculo, compensa em dimensão psicológica.
E é quando é revelada essa faceta da personagem de Edward Norton, o narrador, que a história prova que tem o poder de nos desarmar. Se já em 1999 isso seria admirável, hoje, Fight Club parece continuar a sustentar essa força. Deixou-me, pelo menos, boquiaberta, estática e a repetir uma série de “wtf” na cabeça.
Além da originalidade da história, Fight Club tem o poder de brincar com a mente do espectador. Primeiro, de forma técnica. A figura de Tyler Durden (na pele de Brad Pitt) faz quatro aparições de milésimos de segundo, antes de surgir formalmente no filme, como se o narrador estive a criá-la e a projectá-la na sua realidade. Os mais atentos darão pelo truque, até porque já se conhece bem aquele mito (realidade?) dos frames mostrando de Coca-Colas intrometidos em filmes banais, para puxar à sede dos espectadores de cinema.
Intromissão menos óbvia é a de um aviso que a internet relata. Diz-se que há um frame com uma mensagem escondida do próprio Tyler Durden, que interpela directamente o espectador. “Don’t you have other things to do?”, pergunta ele. “Quit your job. Start a fight. Prove you’re alive. If you don’t claim your humanity you will become a statistic. You have been warned…”
O aviso passa despercebido mas a verdade é que a mensagem do filme fica a amargar na boca, durante uns tempos. Estamos mesmo a tirar o máximo disto? “Prove you’re alive.”
Menos despercebida é a missão que Tyle Durden (Brad Pitt) assume, ao coleccionar desistentes que tenta recolocar no caminho certo. É o caso do empregado da loja de conveniência, que Tyler persuade a retomar os estudos de Biologia ao encostar-lhe uma arma à cabeça. O estilo é persuasivo e violento mas a pergunta impõe-se: será esta personagem quase repulsiva, afinal, bem intencionada?
Arrumado o excelente desempenho dos actores (vale a pena dizer que Meat Loaf e Jared Leto também estão no elenco) e a originalidade da história, falta dar uma palavra à realização e à imagem. Luzes baixas, cenas filmadas sobretudo à noite, iluminação fraca. O sangue tem cor e textura verosímeis. As cenas são apanhadas de pontos de vista inovadores, como quando Edward Norton recebe a chamada de Brad Pitt, sendo filmado do lado de fora da cabine telefónica. Dizia-se que David Fincher estava a criar um estilo. (Ainda falta ver Seven para confirmar ou não.)
Falta dizer que a história é da autoria de Chuck Palahniuk. E que história incrível.
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