The Barn

The Barn © Filipa Moreno

Vale de Carvão não aparece facilmente nos mapas. Não está nos GPS mais avançados. Não se encontra perguntando. Só com uma longa lista de direcções rudimentares (“vira depois daquelas caixas de correio”, “logo a seguir a uma pequena subida”), conseguimos encontrar o The Barn, já a noite tinha caído por ali.

O Pete e a Teresa estavam à nossa espera, com uma garrafa de vinho e algumas uvas produzidas ali mesmo. Ali: numa localidade chamada Santo António das Areias, dentro do Parque Natural da Serra de São Mamede, onde o Vale de Carvão fica apenas a alguns passos a pé da vizinha Espanha. Ali se construiu esta cabana rústica (“charme rústico”, como se fosse uma categoria de pesquisa) de portas envidraçadas, rodeadas de videiras.

The Barn aquece só de olhar: é forrado a madeiras e tecidos quentes. Está recheado de pormenores atenciosos e, acredito, memórias vividas. Somos sempre acompanhados pelos badalos das ovelhas vizinhas e, ocasionalmente, o cair de um dióspiro maduro no chão rompe um pequeno-almoço soalheiro e tranquilo – esborracha-se no chão, para curiosidade do gato que nos visita, sempre com sede de mimo. Cozinhámos num verdadeiro forno a lenha, que o Pete concordou em acender para nós, apesar da temperatura de quase Verão, e enchemos o espaço daquele cheiro a casa.

Fomos deitando olho às informações de incêndios e, durante quatro dias, foram quase sempre 11 a arder no distrito. Tapámos os ouvidos a tudo o resto, ao barulho da cidade, às buzinas, às campainhas, às notificações. Ficámos ali, a ler ao sol, a percorrer algumas cordas de guitarra, a conversar e a rir (…) entre um e outro copo de vinho.

The Barn