Os amigos e o Pedro Andersson recomendaram e o millennial confiou: está na hora de investir em certificados de aforro a boa quantia que amealhou no seu trabalho duro na consultora.
Quase desistiu ao primeiro entrave. Como assim, não é possível agendar uma call com os CTT? Não pode, pelo menos, marcar uma hora para ser atendido? Nem tirar uma senha virtual?
Assim em jeito de pay it forward dos tempos modernos, aqui ficam alguns códigos de desconto, para diferentes marcas, que podem dar jeito a quem está desse lado:
Morreu com vontade de ter dançado muito mais na vida, pela vida fora. Contou-o ao Bernardo Mendonça no podcast Beleza das Pequenas Coisas, que só por si já é um nome sugestivo.
Jorge Silva Melo morreu com vontade de ter amado mais. Contou-o, pareceu-me, sem pena na voz. Ou talvez seja a minha interpretação a recusar tamanho arrependimento num septuagenário. Que ninguém merece ver-se no fim da vida e sentir tê-la desperdiçado nos assuntos do coração.
Jorge Silva Melo morreu e, antes de morrer, gostava de ter dado mais vida aos seus sentimentos. Que devia ter passado mais tempo na casa da vizinha, uma vizinha metafórica para dizer que a sua vida foi sempre de trabalho e que devia ter sido, em parte, vida.
Quando era pequena, fizeram na escola uma recolha para enviar às crianças do Kosovo. Cadernos, lápis, borrachas, tudo o que usávamos para aprender.
Não fazia ideia de onde era o Kosovo.
Nem sei bem se ainda conservo esta memória com toda a verdade. Mas lembro-me de achar estranho que crianças como eu pudessem ir à escola no meio de uma guerra. E o que era uma guerra, na verdade?
Quando o Público escreveu que a guerra tinha voltado à Europa, lembrei-me do Kosovo e das crianças que precisavam de materiais para estudar. Não percebi logo o alcance da manchete, porque vivi (quase) sempre numa Europa em paz.
É estranho hoje como era estranho quando se falava na guerra no Kosovo.
Hoje, com outros olhos, vejo as imagens que os telejornais transmitem e que as redes sociais repetem sem censura. A Rússia invadiu a Ucrânia. Há um mês, os ucranianos resistem como podem, os que ficam e os que partem, destroçados por deixar o país e a família.
Bem sei que as outras guerras afectam pessoas, como nós. Mas esta guerra estalou aqui ao lado. São europeus, como nós. Não consigo deixar de ver os ucranianos, tenazes, a defender-se como podem – sozinhos.
Não é isto a solidariedade europeia. E eu, que nunca tinha visto uma guerra aqui ao lado, que sempre conheci a vida nesta Europa grande, não posso acreditar numa solidariedade europeia que deixa que alguns de nós morram sem ajuda.
Não venham com as sanções económicas para os pais que se despedem dos filhos, nas estações de comboios, sem saberem se alguma vez voltam a vê-los.
Tento fazer uma lista mental do que mais me impressiona, para manter viva a humanidade dos tempos, para resistir à apatia defensiva.
Não me sai da cabeça a ideia de alguém ser, simplesmente, vaporizado. A Rússia usou armas termobáricas que, pelos vistos, têm a capacidade de neutralizar pessoas em segundos. Pátria nenhuma as vais chorar, porque são apagadas num instante, como se nunca tivessem existido.
Não me saem da cabeça as pessoas que os jornais mostram.
Uma jornalista descobre, em direto, que o prédio onde morava foi bombardeado.
Os moradores de Odessa cobrem com sacos de areia o património da cidade.
As crianças doentes que esperam cirurgias são levadas para hospitais de outros países.
A mulher grávida que morreu, juntamente com o seu bebé.
O menino que deixou o pai em Kiev, a vender os pertences da família para ajudar os heróis.
O sobrevivente do Holocausto, que passou por vários campos de concentração para ir morrer às mãos de Putin.
A guerra é feita das histórias destas pessoas. Não é espectáculo. Por isso, por favor, não me peçam mais para seguir a guerra aqui.
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