Ao fim de longas horas de espera, Joe Biden fez o discurso de vitória.
A sua presença em palco contrastou de imediato com a de Kamala Harris. Meio desamparado, lá começa. “Folks, the people of this nation have spoken.”
Entre agradecimentos e promessas de liderança para o futuro, o seu rosto ilumina-se ao dizer que a mulher, Jill, vai ser uma excelente primeira dama.
O valor da família é o que mais sobressai e o que mais diz sobre a personalidade de Biden. A emoção (e a espontaneidade espelhada no seu rosto) é evidente.
“Kamala, Doug, like it or not, you’re family. You become an honorary Biden, there’s no way out.”
Ao chegar ao final do discurso, cansado, a atrapalhar-se nas palavras, o 46º presidente dos EUA vai à infância buscar um episódio de família, cheio de significado e marcas de identidade, que ilustra a sua forma de estar.
“So I remember as my grandpa said when I walked out of his home when I was a kid up in Scranton, he said: “Joey, keep the faith.” And our grandmother, when she was alive, she yelled: “No, Joey, spread it.” Spread the faith.”
Este parágrafo discreto no final do discurso tem tudo:
- a referência à Pensilvânia, casa de Biden e estado em destaque na contagem dos votos
- a linguagem simples, “grandpa”
- a emoção da referência aos avós e memória de infância
- o valor (religioso) da fé como traço de personalidade
- a lição (moral) de ser um exemplo de fé.
Se eu pusesse as mãos no discurso de Biden, era por aqui que começava. Pela história. Porque fé, resiliência e esperança são marcas da sua personalidade e forma de estar. São valores relevantes no contexto, sobretudo depois de dias de contagem de votos nas condições em que decorreram, com olhares de todo o mundo a seguirem atentamente as eleições americanas.
I remember when I was a kid in Scranton, Pennsylvania, walking out of my grandparents house and hearing my grandpa saying “Joey, keep the faith”. And my grandmother would add “no, Joey, spread it”. Spread the faith.
Folks, that’s what starts today: the era of faith.
Filipa Moreno 