30 antes dos 30: A Flor do Equinócio

A Flor do Equinócio (1958)

A Flor do Equinócio (1958)

A Flor do Equinócio passou na RTP2 no sábado. Sabendo que estava na lista, e vendo bom cinema na televisão nacional, fiquei a acompanhar este que é um dos filmes de um dos maiores mestres do cinema japonês.

Yasujiro Ozu atravessou eras e as suas obras relatam a evolução do cinema como arte. A Flor do Equinócio (Higanbana, no original) foi o primeiro filme que fez a cores e é especial também por esse motivo. Para as filmagens, Ozu escolheu a marca Agfa por achar que essa película representava as cores vermelhas melhor que a Fujifilm e a Kodak. Se a princípio o título do filme não parece ter relação com o seu conteúdo, logo percebemos que a importância desta escolha está associada ao nome: a flor do equinócio é vermelha. O resultado é uma paleta de cores esbatida e subtil que não choca por ser a primeira vez que Ozu filma fora do registo preto e branco.

O filme – como a pacata vida japonesa que retrata – pauta-se por uma imperturbável calma. Para isto contribuem os planos estáticos de Ozu. A câmara está parada, são as personagens que entram e saem, no fundo dos planos. São elas que passam pela história, não a história a despontar em torno dos seus acontecimentos.

Até que os sinais da modernidade ameaçam abalar a tranquilidade das tradicionais famílias japonesas que se detêm em vénias intermináveis. Num Japão pós-guerra, um grupo de velhos amigos com vidas confortáveis e filhas em idades casadoiras preocupa-se com a escolha dos genros. Mas algumas jovens atrevem-se a romper com o costume do matrimónio arranjado pelo chefe de família.

São filhas rebeldes que preferem roupas modernas ao kimono e usam cabelos curtos. Saem de casa sem aprovação dos pais, trabalham em bares, querem pensar por si próprias. Wataru Hirayama é um destes pais e referência moral dos amigos, que o procuram para que ajude a recolocar na linha as jovens dissidentes. Apesar de aceder, Hirayama até vê com bons olhos a livre escolha das filhas, até que a mesma sorte lhe bate à porta. De forma incoerente, não aprova o noivo escolhido pela filha mais velha, Setsuko: um trabalhador de família humilde, que não poderia garantir o nível de vida que o pai lhe proporcionara até então.

O filme desenrola-se na base do conflito tradição/modernidade. A modernidade lá vence, a custo, convencendo-se o patriarca a dar a sua aprovação ao enlace da filha.

Resta a Hirayama os jogos de golfe com os amigos, regados a sake. (Parece que o sake é um dos elementos fortes no cinema de Ozu, mas aqui não tem grande presença.) Nada mais há a fazer senão conformar-se com a rebeldia feminina a que a sociedade japonesa não está habituada, e partir para Hiroshima em visita aos recém casados. A vida continua. Como também continuam os planos estáticos de Ozu, infinitos, com gente a entrar e a sair deles ainda hoje.

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A Flor do Equinócio (1958). Yasujiro Ozu

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