Sapos democráticos

© Filipa Moreno

© Filipa Moreno

(Faço já o disclaimer, para amainar leituras potencialmente agressivas das seguintes constatações. Não sou nem de um partido de esquerda, nem de um partido de direita. Aqui vai.)

O pessoal de esquerda ficou muito contente porque voltarmos a ter um ministério da Cultura. Não devem ter gostado muito que, com este ministério, o orçamento para a cultura, em 2016, seja inferior ao do ano passado, quando a pasta estava a cargo de uma secretaria de Estado.

Pior. A malta de esquerda não deve ter gostado muito de ver contrapostas a liberdade de expressão de dois cronistas (Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente) e a demissão do ministro João Soares. Ministro da Cultura, imagine-se. Coitados.

Pior ainda. A malta de esquerda não deve ter gostado muito de ver um apelo, em sentido contrário à liberdade de expressão, plasmado num dos editoriais do Público (“Cala-te, Sócrates”).

Dá para ser pior que isto? Dá, sim senhor. Quem é que apontou a incoerência de um jornal pedir menos liberdade de expressão a uma figura (pública, em investigação…)? Pedro Passos Coelho.

Este ano está a ser duro para a esquerda. O que torna mais fácil engolir estes sapos? Cá para mim, a coerência. Não adianta defender alguém ou alguma coisa com unhas e dentes, quando erram. Insistir no erro só torna as situações um pouco mais penosas. (Ainda que seja algo divertido ver.) Mais vale reconhecer, com distância e imparcialidade, e seguir em frente, tomando um pouco da humildade democrática de que os políticas tantas vezes falam.

Assim mesmo. Que um “democrático(a)” em frente de cada recomendação torna as reprimendas menos vexatórias.