“Os compromissos são sempre necessários por uma razão: é que as maiorias não duram para sempre”. António Costa diz ao Público que os compromissos são precisos porque, a dada altura, não se tem apoio maioritário. A ideia causa-me estranheza. Eu pensava que os compromissos eram importantes para a) se chegar à melhor solução para todos; b) reunir consensos; c) manter a estabilidade e a paz social.
Mas o que me causa mais estranheza é que o Público faça capa da sua revista com um close up de António Costa legendado “O Conciliador”. Bem sei que o Público tem aproveitado o ambiente eleitoral para revelar publicamente a sua inclinação para a esquerda. Mas deixemos as politiquices de parte. Fará sentido chamar conciliador ao homem que fugiu repetidamente ao convite recente para uma conversa conjunta sobre o futuro da Segurança Social? Na semana em que António Costa não se compromete com o diálogo pós-eleições? Conciliador, este homem que abriu uma guerra fraterna no seu partido para destronar o então secretário-geral do PS?
Fui ao dicionário, não fosse o engano ser meu. Conciliador é:
1. que ou o que concilia
2. pacificador
Ora, para conciliar é preciso – pelo menos e à partida – alguma espécie de diálogo. Troca de ideias, no mínimo. António Costa recusou sentar-se à mesa da Coligação – quer ganha, quer perca as eleições – para discutir o futuro da Segurança Social.
Quanto ao segundo verbete, também me parece que estamos longe. O suposto pacificador em António Costa veio também dizer esta semana que, no caso de os portugueses não o elegerem primeiro-ministro (e partindo do princípio de que a Coligação vencerá sem maioria), chumba logo o Orçamento do Estado. E lança assim Portugal numa crise política, num cenário de ingovernabilidade. Lá se vai a estabilidade e a pacificação.
Este é só mais um dos artigos recentes em que a leitura do Público diverge não só da (aparente) realidade política mas das reportagens dos restantes órgãos de comunicação. E eu gostava de ver o Público ser mais imparcial sobretudo em tempos de campanha. Se alinharmos com a prática da desinformação que a classe política, por norma, repete, não estamos a responder ao nosso dever de bem informar os cidadãos.
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