Dei por mim a ler uma entrevista de António Costa. E a gostar. Dizia o líder socialista que as políticas de educação, de formação, de investimento em inovação devem estar entre as prioridades de Portugal no futuro. Muito bem, pensei para comigo, lembrando-me do sucesso numérico das Novas Oportunidades e recuperando de imediato os resultados qualitativos do programa-bandeira de José Sócrates.
Depois, li António Costa a evocar o milagre do investimento que permitirá abrir os cordões à bolsa, ou as portas blindadas dos cofres do Estado. Só assim, claro está, poderemos ter um País que baixa impostos e contribuições sociais, que aposta em políticas de educação que promovam a qualidade e melhorem os nossos níveis de qualificação e formação.
Li um António Costa sebastiânico a afastar o nevoeiro que ensombrou as políticas sociais de Passos Coelho. E perguntei-me se será possível conciliar as duas visões. Num canto, o Estado Social pai, protetor e (e)terno financiador de tudo e mais alguma coisa. Um Estado que cria até emprego se assim for preciso. Um Estado que permite a uns trabalhadores, os da Função Pública, ter horários de trabalho inferiores aos praticados no sector privado. (Li Costa explicar, por outras palavras, que é preciso devolver a motivação aos trabalhadores do Estado).
No outro canto, um Estado que se subtrai à intervenção económica e deixa as empresas livres, leves e soltas, a gerirem por si os seus lucros e perdas. Um Estado que privilegia a iniciativa individual e a criação das oportunidades próprias. Um Estado quase acéfalo em matérias sociais quando confrontado com a obstinada missão de cumprir metas.
Perguntei-me se será possível atingir um equilíbrio ou se, como na moda, estamos condenados a viver a política por ciclos? Agora governas tu, gastas como entenderes. Agora governo eu, para pôr ordem na casa. Será esta uma disputa eterna, com muitos rounds e sem nenhum vencedor?
Li ainda António Costa a esquivar-se completamente à festa que andou a fazer ao Syriza. Pergunta o jornalista se Costa alinha na renegociação da dívida. Responde o artista: «Não tenho visto grande sucesso nos governos que assumiram essa meta como objetivo. Aquilo que digo é que não gostaria de colocar Portugal na posição em que outros, de uma forma voluntarista têm colocado os países que estão a governar.»
Li José Sócrates, perdão, António Costa a indignar-se com a divulgação do SMS enviado ao editor de política do Expresso criticando o que este escreveu sobre o líder socialista. Merece citação: «E que se procure transformar o mártir do SMS em herói da liberdade só me dá vontade de rir. Não acredito que haja algum jornalista que se deixe intimidar ou condicionar por qualquer tipo de SMS.»
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