Persuasão e empatia: o que o UX design pode aprender com o storytelling

Inspirada pela história do Ronnie del Carmen, escrevi umas linhas sobre como o storytelling pode ser útil a uma abordagem human-centered ao design.

Contar histórias é traduzir mensagens por emoções, como a empatia. Tudo porque há uma reação química no cérebro ao storytelling, a que ninguém é imune.

Estamos programados para pensar em histórias, é a forma como interpretamos a realidade e nos movimentamos nela. Nada como uma estatística para prová-lo: lembramo-nos de um facto 22 vezes mais se ele nos for relatado através de uma história.

Esta e outras ideias estão no Medium: o que é preciso para contar uma boa história e como as equipas de UX Design podem usar esta soft skill para o seu trabalho.

Como a Pixar conta histórias

Carl from Pixar's movie Up, looking sad
Carl, Up (2009)

Ronnie del Carmen é um story person, director e designer na Pixar e, na altura em que o seu pai estava internado, o projecto que tinha em mãos era Carl, protagonista do filme Up.

Quando Carl se senta no sofá a folhear um pelo álbum de fotografias e a recordar a vida que partilhou com Ellie, não há diálogos. Aquele silêncio das conversas entre Ronnie e o pai foi vertido para dentro dessa cena. E, sem palavras, ali diz-se tudo sobre a perda, nos olhos tristes de Carl e na sua barba mal feita – tal e qual uma pessoa de verdade.

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Purl, um cliché cor-de-rosa num mundo de homens

Purl, Pixar

Purl é a nova curta da Pixar, que decidiu agarrar uma ideia que surgiu num programa interno, sobre um tema bem actual: a desigualdade entre géneros no mundo laboral.

A autora, Kristen Lester, inspirou-se na sua própria experiência para contar a história de Purl, um novelo de lã cor-de-rosa que chega a uma empresa onde todos os colegas são homens (brancos) vestidos com pesados fatos escuros. Para integrar-se na equipa, Purl tricota um fato cinzento e mimetiza os comportamentos da equipa. Ganha o respeito de todos, até ao dia em que um novelo de lã amarela chega ao escritório e Purl retoma a sua personalidade.

A curta foi lançada no YouTube, onde a maioria dos comentários é de utilizadores chocados pelo facto de a Pixar ter deixado passar algum calão (“they can kiss our ass”). O texto é bom e as piadas linguísticas passam bem. Mas as perguntas por aqui são outras.

Por que é que o género feminino é representado por novelos de lã, de ar fofo e sensível (e difíceis de deslindar), num escritório onde os homens são humanos, não bonecos?

Por que é que Purl muda de atitude e visual para tentar integrar-se num mundo de homens?

Esta curta não é propriamente para crianças, por isso, não há grande preocupação com a moral a retirar da história. Mas surpreende a moral que lhe deu origem. Não terá sido intencional, talvez. Certo é que a personagem feminina desta história é um cliché cor-de-rosa num ambiente de homens poderosos, que a acusam de ser demasiado soft. Cliché atrás de cliché.

It’s a rich man’s world.

30 antes dos 30: Sen to Chihiro no Kamikakushi

Chihiro e Haku, personagens de Spirited Away

Está entre os melhores filmes de animação de sempre e tem o recorde de bilheteira aquando da sua estreia no Japão: Sen to Chihiro no Kamikakushi, de 2001, é possivelmente a obra-prima de Hayao Miyazaki.

Tudo começou quando Miyazaki se apercebeu de uma falta de histórias com personagens femininas fortes, feitas para os mais novos. Inspirado por meninas amigas da família, apercebeu-se de que os temas de revistas japonesas de manga iam pouco além de histórias românticas. Daí nasceu Chihiro, a heroína de 10 anos que se vê forçada a mudar de cidade por vontade dos pais, deixando para trás os amigos. A família vai parar a um mundo espiritual quando entra num parque de diversões aparentemente abandonado. Os pais da menina são transformados em porcos. Chihiro escapa a semelhante sorte porque encontra Haku, que a aconselha a procurar trabalho, um trabalho que escraviza praticamente todos os habitantes daquele universo paralelo. A missão de Chihiro é libertar os pais do jugo de Yubaba, a feiticeira-avó que rege aquele mundo. Continuar a ler