Tem interpretações de luxo e um guarda-roupa victoriano que deixou deslumbrados os Storytailors, Luís Sanchez e João Branco. O novo filme de Guillermo del Toro passeia-se entre o romance, o terror e o drama psicológico. “Crimson Peal – a Colina Vermelha” chega às salas de cinema a 22 de Outubro.
O enredo não é inédito mas a reinvenção de Guillermo del Toro dá-lhe contornos únicos. Em “Crimson Peak”, o típico triângulo amoroso é protagonizado pela filha de um poderoso industrial americano, a aspirante a escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) e os irmãos Thomas (Tom Hiddleston) e Lucille Sharpe (Jessica Chastain). Ele é um inventor a tentar explorar a única riqueza que lhe resta, as reservas de argila acumuladas sob a sua desterrada casa britânica (fria e assustadora, como convém a qualquer filme de terror); ela é a sua fiel sombra e guardadora de todos os segredos da família.
O filme tem inspiração victoriana e faz lembrar os clássicos de Hollywood entretanto cristalizados. Para Guillermo del Toro, marca o regresso dos romances góticos ao grande ecrã, de onde tinha desaparecido há 30 anos. E chega com tudo o que os espectadores podiam esperar do realizador: grande intensidade dramática, uma qualidade estética única e actores de qualidade reconhecida com desempenhos emocionantes. A coroar a imagem de “Crimson Peak” está o guarda-roupa criado por Kate Hawley, que deixou rendida a dupla de estilistas Storytailors, fãs de Guillermo del Toro desde “O Labirinto do Fauno”.
Para Luís Sanchez e João Branco, este é um filme «esteticamente avassalador e violentíssimo». E o guarda-roupa está à altura. Confessam-se arrebatados pelas criações que vestem as personagens de Mia Wasikowska e Jessica Chastain.
Em entrevista à Look Mag para comentar o filme, explicam que o guarda-roupa não retrata a época da acção (passada na alta sociedade nova-iorquina e na Inglaterra do início do século XX) mas constitui uma reinvenção desse período. «Não são apenas réplicas ou retratos dos vestidos de época, há trabalho criativo» e «liberdade interpretativa» para tratar cada figurino consoante os traços das personagens. Valorizam a herança histórica, que vêem como correcta no filme, mas no seu trabalho preferem pensar no futuro em vez de privilegiar o saudosismo.
A carga dramática do guarda-roupa é acentuada pelos materiais e cores usados por cada personagem. Os Storytailors explicam porque Edith Cushing usa sempre cores claras, como o vestido rosa pálido com que se apresenta numa das principais cenas da primeira parte do filme, por ser a «cor do amor puro», ou o amarelo, uma cor mais alegre. Ao mesmo tempo, Lucille Sharpe traja de pretos e vermelhos acetinados, símbolos da paixão. Para os criadores, estereótipos como estes «têm de ser muito bem trabalhados, senão tornam-se clichés». Quando são usados como em “Crimson Peak”, têm a «capacidade extraordinária de emocionar» os espectadores.
Os estilistas também se sentem emocionados por denotarem no trabalho de Kate Hawley e Guillermo del Toro uma paixão distintiva. Identificam-se também com aquele trabalho por terem criado, há pouco tempo, um vestido de noiva para uma cliente que iria casar num castelo antigo de França, algo semelhante à casa onde se passa o enredo.
Tecnicamente, os elogios dos criadores portugueses continuam. Desde os materiais escolhidos para os vestidos às técnicas utilizadas para a sua construção, como é feito numa das primeiras peças com que Lucille Sharpe se senta ao piano: o trabalho detalhado e a estrutura das costas do vestido e a transparência das mangas são destacados pelos Storytailors.
Os que esperam um filme de terror vão encontrar em vez disso um drama psicológico. Mas há alguns fantasmas e muito sangue. “Crimson Peak” vale pela beleza estética única e cativante, pelas personagens arrebatadoras, pelo desempenho extasiante dos actores e pela combinação narrativa entre o fantástico e a vida real. Mestria de Guillermo del Toro.
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